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Regionalização da avicultura: “combinaram com o adversário?”




Campinas, 09/03/2004


Está registrado inclusive em livro que, durante o Campeonato Mundial de Futebol realizado na Suécia, em 1958 (seria o primeiro vencido pelo Brasil em direção ao penta), o técnico brasileiro Vicente Feola procurou definir com seus subordinados algumas táticas de jogo, coisas do tipo “você entra por aqui, passa por trás do adversário, atira a bola para o companheiro, que devolve e você chuta para o gol”. Ao que o jogador Garrincha perguntou: E vocês já combinaram isso com o adversário?
O caso é rememorado em função da proposta – corrente no meio avícola, mas dependente da aprovação do governo federal – de regionalização da avicultura para determinados problemas sanitários. Ou seja: ocorrendo em determinada região do País um problema sanitário (por exemplo, Newcastle ou Influenza) capaz de por em risco, em última instância, as exportações avícolas brasileiras, seriam criados cinturões (uma redoma virtual) em torno das zonas produtoras que atendem o mercado externo, nelas restringindo-se o trânsito de produtos avícolas provenientes de outras regiões.
Sem pretender discutir o mérito da proposta – e apenas lembrando que ela, de certa forma, subverte as determinações internacionais, já que o recomendado é isolar e atuar sobre a área afetada para que cessem seus efeitos prejudiciais, não proteger a área sã – fica a pergunta: já combinaram com os compradores e concorrentes?
Sim, porque em situações sanitárias do gênero, o comportamento padrão tem sido o de embargar a produção de todo o país, independente da localização do foco, do tamanho desse foco ou, mesmo das dimensões territoriais do país afetado. Nessas ocasiões, é comum dar-se idêntico tratamento a, por exemplo, uma Tailândia e a um país 15 vezes maior que a Tailândia, como o Brasil.
O Brasil, aliás, já vivenciou anos atrás um problema do gênero quando a China, adotando como argumento a ocorrência de um surto de Newcastle numa remota e bem definida granja do Rio de Janeiro, vetou por longo tempo a carne de frango brasileira. Ou seja: para quem ainda acha que a capital do Brasil é Buenos Aires, interessa menos ainda saber que um determinado vírus foi identificado a 2.500 quilômetros de distância da zona produtora. Para eles, tudo é Brasil.
Parece, pois, que o mais importante é juntar forças para impedir que tais males cheguem ao Brasil. Ou, como isso é impossível, para que se criem condições de combate-los imediatamente, tão logo sejam detectados.
Mas a busca da regionalização não deve ser interrompida. Só que deve ser levada para outro âmbito, o internacional. Ou seja: governo e setor privado brasileiros precisam atuar junto aos órgãos competentes – neste caso, a OIE - Organização Mundial de Sanidade Animal, principalmente – no sentido de que haja uma regionalização dos focos de problemas sanitários, exercendo-se apenas sobre eles os embargos pertinentes.
Isso já é praticado, por exemplo, em relação à febre aftosa, mas não em relação a doenças como a Influenza Aviária, cujas ocorrências têm alijado do mercado internacional todos os países afetados, sem regionalização da comercialização.
No entanto, esse critério está – de um ponto de vista eminentemente técnico – totalmente distorcido. Pois, por exemplo, se o surto de Influenza que atingiu três países europeus (Holanda, Bélgica e Alemanha) em 2003 tivesse a mesma abrangência (área dos países afetados) no Brasil, os Estados correspondentes seriam Rondônia e Roraima. Pois bem: lá, o surto afastou da comercialização uma área produtora da ordem de 422 mil quilômetros quadrados. Aqui, uma ocorrência similar em área retiraria da circulação um total de 8,5 milhões de quilômetros quadrados.
O Brasil precisa atuar para que essa distorção seja corrigida e para que, internacionalmente, prevaleça o critério da regionalização.


Fonte: AviSite
Autor: Redação






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