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CIÊNCIA & TECNOLOGIA - Trabalhos Técnicos

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Produção industrial de perus: características e exigências

Angélica Signor Mendes - Doutoranda em Engenharia Agrícola, Faculdade de Engenharia Agrícola - UNICAMP Daniella Jorge de Moura - Profª. Drª. Depto. de Construções Rurais - FEAGRI / UNICAMP Irenilza de Alencar Naas - Profª. Titular. Depto. de Construções Rurais - FEAGRI / UNICAMP Introdução A produção de perus nestes recentes anos tem se tornado muito competitiva e altamente especializada, exigindo a utilização de grandes instalações, que podem conter de 1.000 a 25.000 aves alocadas em densidades acima de 60 kg/m² (aproximadamente 3 machos adultos/m²). Métodos de acondiciomento térmico têm sido amplamente utilizados para melhorar o microambiente das aves para, com isso, se alcançar o bem-estar animal e maiores resultados em produtividade e rentabilidade, visto que, perdas produtivas decorrentes de ondas de calor e demais condições climáticas são comuns na produção de aves em clima tropical. Em muitos casos a criação de perus tem sido uma alternativa para as famílias que anteriormente dedicavam-se a produção de frangos de corte, tornando-se sua principal atividade. Nos estados do Sul, especialmente na região da serra gaúcha, a criação de perus tem experimentado acentuada expansão nos últimos dois anos. A carência de informações na literatura e de pesquisas nesta área levam produtores de vários estados brasileiros a não se lançarem na produção industrial de perus e, com isso, a perderem um importante espaço no mercado interno e externo. O agronegócio avícola brasileiro movimenta em torno de 10 bilhões de dólares ao ano, representando 2 % do PIB do país. Emprega 2 milhões de pessoas, em suas atividades diretas e indiretas, e tem crescido a uma taxa de cerca de 10% ao ano, nas três ultimas décadas (Mendes & Saldanha, 2004). Espelhando-se no sucesso dessa atividade, um outro segmento da avicultura brasileira começa a trilhar o mesmo caminho. A produção de perus vem, nos últimos anos, crescendo de maneira acentuada no Brasil. Em 2003, foi um dos setores da avicultura industrial nacional teve grande evolução (Figura 1). Em 2004 foram abatidos no país 28,7 milhões de perus, um incremento de 8,14% sobre o ano anterior. A produção total alcançou 271,4 mil toneladas, o que representou 23% de acréscimo sobre a produção de 2002 (UBA, 2003). Figura 1: Representação gráfica da produção de carne de peru no Brasil. Para o mercado interno, foram destinadas 161 mil toneladas do total, enquanto o mercado externo absorveu 110,4 mil toneladas. A receita cambial decorrente das exportações atingiu US$ 152,3 milhões, resultado que correspondeu a um incremento de 23,8% em comparação com 2002. Dado muito significativo para o mercado interno foi o fato dos subprodutos oriundos da produção de perus ultrapassarem a fase de consumo apenas sazonal. Hoje, oferta e demanda são permanentes ao longo do ano. Deve ser destacada ainda a evolução da industrialização da carne de peru, com aumento da oferta de produtos atraentes e práticos e com maior participação na elaboração de produtos prontos muito solicitados pelo consumidor brasileiro, como as lasanhas, patês e pizzas. Com isso, o Brasil consolidou a posição de terceiro maior produtor e exportador de peru, atrás apenas dos EUA e da União Européia, responsabilizando-se por 5,1% da produção total mundial (Tabela 1). No aspecto de comercialização internacional, o país melhorou o leque de distribuição ao abrir novos e importantes mercados, criando novas perspectivas de crescimento e participação (Tabela 2). A produção de perus no primeiro semestre de 2004 atingiu a marca de 137,9 mil toneladas de carne da ave. Desse montante, 81,3 mil toneladas foram destinadas ao mercado interno e 56,6 mil toneladas foram absorvidas pelo mercado internacional. A receita com as exportações nesse período somaram US$ 97,6 milhões. De acordo com a UBA (2004), as exportações de carne de peru renderam ao País cerca de US$ 200 milhões em 2004. Exigências Microclimáticas Temperatura Os perus, como animais homeotermos, são capazes dentro de certos limites, de regular a própria temperatura corporal. Esses limites, que variam muito com a idade, são bastante amplos no animal adulto e muito mais estreitos no caso dos mais jovens. Esse fenômeno se deve a muitos fatores, entre os quais, está o estado da plumagem que têm uma importância considerável, dado que as plumas limitam a perda de calor. Em conseqüência, ao variar a temperatura ambiente se produzem notáveis mudanças na atividade animal. Por isso, no caso dos jovens perus, é importante dispor de sistemas de aquecimento facilmente reguláveis, capazes de alcançar a temperatura desejada, sendo controlados de acordo com as exigências do animal. À medida que os perus crescem necessitam de temperaturas mais baixas. Para animais de 12 a 24 semanas a temperatura ideal, para alcançar os melhores ganhos de peso e índices de conversão, oscila entre 15 a 21°C, no entanto valores superiores a 27°C levam a um maior consumo de água, diminuição do consumo de alimentos, aumento da freqüência respiratória e da temperatura corporal. Produzem-se igualmente, uma diminuição do consumo de oxigênio, da pressão sangüínea, do número de pulsações, da atividade tiroideana e definitivamente, uma diminuição no ganho de peso vivo e no rendimento. Temperaturas superiores a 32°C podem resultar em prejuízos para a saúde das aves, especialmente se coincidirem com valores de umidade superiores a 70% e ventilação deficiente. Ao contrário, quando a temperatura ambiente é baixa nos aviários com perus adultos, ou próximos a essa idade, se produz um incremento da atividade metabólica, conseqüentemente com maior produção de calor e aumento do consumo de alimentos. Abaixo de certos limites, o crescimento e a atividade reprodutora são alterados negativamente. Os perus adultos, incluindo os que se encontram em fase reprodutora suportam muito bem temperaturas baixas, inclusive valores próximos a 0°C. Ao contrário, eles suportam muito mal o calor, temperaturas superiores aos 25°C influem negativamente sobre a atividade reprodutora em ambos os sexos. Na Tabela 3, pode-se observar algumas indicações em relação à influência das diferentes temperaturas, sobre animais em fase reprodutora. Umidade Foi comentado que a umidade afeta a sensação térmica dos animais, já que o calor pode ser bem tolerável com uma umidade relativa (UR) baixa e não quando esta está elevada. Neste caso se reduz consideravelmente a evaporação da umidade respirada, diminuindo o resfriamento do corpo. Ao contrário com UR elevada em um microclima frio, pode-se chegar até a condensação da UR sobre paredes e demais componentes da instalação, com a conseguinte perda de calor no aviário e surgimento de doenças. Durante a primeira semana de criação, geralmente são observados valores de UR bastante baixos, devido as altas temperaturas alcançadas pelos sistemas de aquecimento e a baixa concentração de peso vivo / m². Até o final dessa fase, se produz quase sempre a situação contrária, com UR excessiva que depende de diversos fatores, tais como: taxa de ventilação e volume de água derramada dos bebedouros, condições de umidade da cama e a taxa de evaporação da água presente nos dejetos. Ventilação A ventilação é um dos fatores mais importantes capaz de condicionar em boa parte do êxito da produção, sendo necessária pelos seguintes motivos: 1. Eliminação da umidade produzida pela respiração das aves, presente nas camas, assim como do ar quente viciado existente nas coberturas altas; 2. Controle da temperatura ambiental, tanto em épocas de calor como nas frias; 3. Renovação do oxigênio ambiental consumido pela respiração das aves; 4. Eliminação do gás amoniacal que se forma pela fermentação orgânica das camas mal conservadas. É preciso levar em conta também o movimento do ar nas edificações, visto que a presença de correntes pode ser prejudicial, especialmente para as aves mais jovens quando submetidos a temperaturas inferiores a 20°C. Nessas condições será conveniente não superar os 15-30 m³/minuto, ao nível das aves e 200-300 m/minuto nas entradas de ar. Durante a primeira semana de vida os perus precisam de um microclima bastante uniforme. Isto é alcançado pelo correto manejo da ventilação natural ou forçada (uso de exaustores) para que seja atingida uma taxa de ventilação mínima. O uso de ventiladores axiais juntamente com o uso de nebulizadores passa a ser importante a partir da oitava ou décima semana de vida, quando a quantidade de calor armazenado na instalação é fator determinante à taxa de ventilação a ser aplicada. Aspectos construtivos devem também ser levados em consideração na fase de implantação do projeto, tais como: orientação das instalações; necessidade ou não de sombreamento; material utilizado tanto na cobertura como na estrutura do galpão, devem ser previamente selecionados com o objetivo de fornecer as aves o conforto térmico adequado ao seu bem-estar. Conclusões Em 2005, alavancado pelos fatores tecnologia, qualidade e sanidade, o segmento deve prosseguir nessa linha de contínuo desenvolvimento. Para tanto necessita-se otimizar a produção, prever e reduzir possíveis perdas. Condições climáticas adversas e ondas de calor são agentes causadores de significativas perdas no setor avícola. O ideal é evitar que o microclima no interior dos aviários se torne desconfortável e estressante para as aves através de um manejo e controle adequado do sistema de climatização. Referências Bibliográficas Cavalchini L.G El Pavo. Mundi-Prensa: Madri, 308p., 1985 Mendes, A. A. & Saldanha, E.S.P.B. Produção de frangos de corte. In: A cadeia produtiva de carne de aves no Brasil. Ed. Ariel Antonio Mendes, Irenilza de Alencar Nääs e Marcos Macari. Campinas: FACTA, 2004. p.1-22. RELATÓRIO ANUAL 2003/2004 da União Brasileira de Avicultura (UBA). Brasilia, DF. p.52-53.


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